sábado, 14 de setembro de 2013

A IGREJA CATÓLICA ACEITA A REENCARNAÇÃO?

Alguns protestantes estão dizendo que a igreja católica era á favor da reencarnação, será? Vou apenas falar quais são a verdadeira visão cristã católica acerca do tema afim de por em cheque essa mentira de cunho histórico.
A Igreja Católica só condenou oficialmente as teses reencarcionistas em um concílio no século VI.

Antes disso não se pronunciava a respeito e chegou a permitir que elas fossem discutidas abertamente em alguns períodos.

Sendo assim, teria havido inclusive alguns Padres da Igreja que defenderam abertamente a reencarnação, nominadamente Clemente de Alexandria.

Orígenes nunca ensinou a Reencarnação. Ele defendia a Pré-existência das almas.

É diferente. Só para protestante maluco que quer desesperadamente arrumar embasamento para os seus delírios é que é a mesma coisa.

Orígenes não é considerado Padre da Igreja por Roma, tendo sido anatemizado em 556. Mas não se pode desprezar o peso do pensamento dele nos primeiros séculos da Igreja.

A Igreja nunca aceitou a tese da reencarnação em algum momento, nem tacitamente, mas que ela demorou alguns séculos para pronunciar-se definitivamente sobre o assunto. É uma demora relativa comparando com outras grandes heresias da época.

As teses arianas e nestorianas foram rapidamente combatidas, anatemizadas nos concílios de Nicéia e Constantinopla 200 anos antes, diferentemente das reencarcionistas. Enquanto o Roma locuta, causa finita não acontecia, alguns teólogos católicos tinham a possibilidade falar e escrever com relativa abertura sobre isso.

Recomendo uma leitura minuciosa do artigo de Dom Estêvão a este respeito: Orígenes e a pré-existência

Transcrevo a seguir, deste artigo, alguns dos trechos que achei mais interessantes:

Orígenes fazia questão de distinguir explicitamente entre proposições de fé, pertencentes ao patrimônio da Revelação cristã, e proposições hipotéticas, que ele formulava em seu nome pessoal, à guisa de sugestões; além disto, professava submissão ao magistério da Igreja caso esta rejeitasse alguma das teses de Orígenes.
(...)

Note-se bem: Orígenes propunha essas idéias como hipóteses, e hipóteses sobre as quais a Igreja não se tinha pronunciado (justamente porque pronunciamentos sobre tais assuntos ainda não haviam sido necessários). Não havia, pois, da parte de Orígenes a intenção de se afastar do ensinamento comum da Igreja a fim de constituir uma escola teológica própria ou uma heresia (“heresia” implica obstinação consciente contra o magistério da Igreja).

A desgraça de Orígenes, porém, foi ter tido muitos discípulos e admiradores... Estes atribuíram valor dogmático às proposições do mestre, mesmo depois que o magistério da Igreja as declarou contrárias aos ensinamentos da fé.

É preciso observar ainda o seguinte: Orígenes admitiu também como possível a preexistência das almas humanas. Ora esta doutrina não significa necessariamente reencarnação; (...)

Aliás, Orígenes se pronunciou diretamente contrário à doutrina da reencarnação...

(...)

Contudo, os discípulos de Orígenes professaram como verdade de fé não somente a preexistência das almas (delicadamente insinuada por Orígenes), mas também a reencarnação (que o mestre não chegou de modo algum a propor, nem como hipótese).

A "Pré-Existência" das almas de Orígenes era mais ou menos assim:

Havia outros mundos, "antes" (ou "além", não sei bem) deste mundo em que vivemos, e as pessoas que morriam lá "encarnavam" aqui. Aí elas chegavam coroadas com seus méritos, ou punidas com suas faltas.

Era uma teoria de múltiplos mundos, através dos quais as pessoas passavam. Ela tem duas particularidades que a diferenciam do reencarnacionismo kardecista:

1- Havia vários mundos e as pessoas encarnavam através desses mundos. As pessoas não encarnavam de novo neste mundo (não reencarnavam).

2- A série de sucessivas encarnações teria um fim, no Juízo Final, no qual todas as criaturas seriam salvas.

Foi uma teoria que buscou a solução do "problema do mal", que, grosso modo, é: se Deus existe, porque existe o mal? Essa pergunta não estava muito bem respondida nos primórdios do cristianismo, daí a necessidade de Orígenes ter inventado um "modelo" de vidas sucessivas para explicar a realidade observada dos fatos.

Foi preciso que Santo Agostinho "batesse o martelo" e dissesse que o mal não "existe", o mal é ausência, ausência provocada pela desordem introduzida com o Pecado Original. O mundo atual é "desordenado", mas, mesmo assim, temos a esperança de que Deus, Senhor da História, não permitiria o mal se não pudesse, dele, tirar um bem maior; e de que virá um dia em que "toda lágrima cessará", e viveremos num "novo céu e nova terra", quando Deus reestabelecerá a ordem da Criação.

Nesses moldes, não há razão-de-ser para teoria de múltiplas encarnações nenhuma.

Portanto, arriscando-me a responder à pergunta ("por que as teoria de Orígenes demoraram a ser condenadas"), creio que foi por isso: porque o problema do mal demorou a ser resolvido.

A Igreja só costuma pronunciar-se definitivamente sobre um assunto quando há necessidade. E os pontos levantados por Orígenes só vieram a marcar o pensamento teológico décadas depois de sua morte.

A questão dá pré-existência das almas pra mim só comento que talvez essa hipótese (e não tese doutrinária) e a da apocatastasis de Orígenes não fosse tão desconexa com as idéias reencarcionistas da época. Não sei como funciona no kardecismo, mas pelos artigos que li os reencarcionistas -- especialmente os origenistas, o que não significa que não tenham distorcido o pensamento de Orígenes -- utilizavam os pressupostos da pré-existência, da vida material como punição e da redenção final incondicional para defender a reencarnação. A segunda, inclusive, seria a mais convincente: se a vida material fosse usada como punição das fraquezas espirituais, nada impede que se possa passar por ela diversas vezes para "ser salvo".

Da reencarnação (metempsicose)

"Orígenes traça um quadro grandiosa desta hierarquia espiritual (...) Um terceiro grau, enfim, compreende as almas humanas. Também estas são o que mereceram ser, e retêm, dentro da hierarquia espiritual, um lugar correspondente à sua culta, isto é,m abaixo dos anjos e acima dos demônios. Nada as impede de tenderem ao alto, e as que o fizerem são chamadas filhas de Deus, a luz, da paz e da ressurreição; mas podem também tender para baixo, vindo a ser piores do que eram, Existe mesmo a possibilidade do que aquelas que por seus crimes se tornaram semelhantes aos brutos, venham a ser encarceradas em corpos de animais. 

Neste contexto, Orígenes parece esposar a opinião de que as almas humanas podem também transmigrar para corpos de animais. Todavia, em face da viabilidade de uma explicação alegórica, particularmente familiar a Orígenes, é duvidoso que ele admitisse uma verdadeira metempsicose. Tal interpretação é perfeitamente consistente com a tradução de Rufino de Princ.1,8,4;105, a qual pode ser entendida até mesmo como uma rejeição da metempsicose. Também Jerônimo opina que Orígenes não se pronunciou definitivamente sobre este problema: “Haec, inquit, iuxta nostram sententiam non sint dogmnata, sed quaesita tantum atque proiecta, nbe penitus intractata direrentur”. Em vista do que ficou exposto acima, acerca de sua atitude contrária à metempsicose, talvez nos seja permitido afirmar que Orígenes rejeita esta doutrina como uma opinião desenxabida"

GILSON, Étienne; BOHENER, Philotheus: Hist. da Filosofia Cristã, Págs 69-70

Da eviração

“Sua conduta irrepreensível e literalmente concorde Às exigências de Evangelho – chegou mesmo a castrar-se num imprudente acesso de zelo. – granjeou-lhe a estima de gentios e cristãos.

(...)

“Em 230 (...), passando pela Palestina, foi ordenado sacerdote pelos bispos Alexandre de Jerusralém e Teoctisto de Cesaréia, seus amigos. De volta a Alexandria, o bispo Demétrio, desaprovando o gesto dos dois bispos, suspendeu-o, alegando não se permitido a um eunuco ordenar-se sacerdote. 

GILSON, Étienne; BOHENER, Philotheus: Hist. da Filosofia Cristã, Págs 48-49

domingo, 1 de setembro de 2013

Nominalismo protestante



Lutero adotou o nominalismo, provavelmente porque, para ele, de alguma forma, parecia como um antídoto contra a teologia escolástica católica, com sua ênfase sobre o natural, teologia racional que ele considerava hostil à fé. Se os filósofos nominalistas (como seu próprio professor Gabriel Biel) estivessem certos, somos completamente empurrados em direção à fé para conhecer a Deus verdadeiramente. Para Lutero, o nominalismo mantinha Deus transcendente e também mantinha a razão humana em seu verdadeiro lugar — incapaz de chegar a Deus e fazer dele seu prisioneiro.

A teologia protestante, entretanto, mergulhou no nominalismo de Lutero. Bem como, o nominalismo penetrou mais tarde em toda cultura principalmente através do Iluminismo, sendo sugado e levado em seu DNA pela América do Norte, como por nenhuma outra cultura ou sociedade. Inconsistentemente, é claro, porque o “americanismo” é concebido pela maioria dos americanos como uma essência, um pressuposto universal, o que dificilmente se encaixa com o nominalismo!

Nominalismo, é claro, é a crença de que beleza, verdade e bondade são nada mais do que conceitos, idéias convencionais, construções. Eles não têm nenhuma realidade ontológica. Eles não são essências eternas ou universais; tais não existem. Levado para a teologia, então, tem-se o voluntarismo na doutrina de Deus. Deus não tem uma natureza eterna de caráter; ele é puro poder e vontade. Deus é tudo o que Deus decide ser. O resultado é que o “bom” é qualquer coisa que Deus ordena, e Deus não ordena nada pelo fato de algo ser bom. É bom porque Deus o ordena.

Voluntarismo, na forma do “deus absconditus” (Deus oculto), foi uma lisonja metafísica que Lutero deu a Deus. Ele achava que isso protegia a divindade de Deus. Essa ideia foi empregada por alguns teólogos reformados e aparece em todo período pós-Reforma quando alguns calvinistas (e outros) afirmam que “tudo o que Deus faz é bom e automaticamente correto apenas porque Deus o faz.”

Isso torna Deus verdadeiramente monstruoso, pois, dessa forma, ele não possui um caráter reto. “Bom” se torna o que Deus decide e faz e, em última análise, perde totalmente o sentido, pois não tem conexão essencial com qualquer coisa que conheçamos como “o bom“.

Até agora, eu culpava Lutero por inserir o nominalismo/voluntarismo na teologia protestante (apesar de reconhecer que a teologia luterana não é, por si só, nominalista). Mas, tão culpado quanto é Zwinglio, que inflexivelmente afirmou que Deus pode fazer o que quer e não há nenhuma razão para ele desejar uma coisa e não outra.

Este é o problema fundamental do movimento “jovem, revoltoso, Reformado”. Não é apenas o seu calvinismo, é o voluntarismo nominalista em sua doutrina de Deus. Este Deus poderia simplesmente mudar de ideia e decidir que a salvação é pelas obras e não pela graça. Sua fidelidade transforma-se num filete de decisão ocasional de sustentar suas promessas, mas nada que faça parte da essência de Deus de forma que a fidelidade faça parte do seu ser.

A palavra “confiar” do termo “confiar em Deus“, assume então dois significados radicalmente diferentes. Para o nominalista/voluntarista ela significa “esperar que Deus decida manter as suas promessas“. Nada faz disso algo infalível. Deus não tem um caráter eterno que o impede de quebrar suas promessas. Se ele decidiu algo, então isso seria bom, pois “bom” é tudo o que Deus decide e faz. Para o realista, “confiar” significa “estar seguro de que Deus não pode quebrar suas promessas“, porque Deus é a própria bondade e não pode mentir ou contradizer a si mesmo ou ir contra a sua palavra.

A cultura moderna está impregnada com nominalismo. Ouça as máximas: “A beleza está nos olhos de quem vê“; “Você tem a sua verdade e eu tenho a minha“; “O mais importante é ser verdadeiro consigo mesmo“, etc., etc. Para a maioria, beleza, verdade e bondade foram relativizadas e individualizadas. Não me admira que a nossa sociedade seja uma bagunça!

Mas é fato que esse nominalismo entrou no DNA teológico dos reformadores, da mesma forma que em nosso DNA cultural. Ele mostra-se de muitas maneiras diferentes: individualismo radical nas igrejas; cristianismo desigrejado; cristianismo montado para se ajustar às necessidades dos indivíduos.

Calvinistas conservadores são especialmente bons em apontar os sintomas do nominalismo na sociedade secular e nas igrejas (embora nem sempre identificam a raiz da doença). Mas eles não são sempre tão bons em reconhecer o nominalismo em seu próprio pensamento.

Sem dúvida, nem todos os calvinistas são nominalistas, mas a minha experiência é que muitos deles subitamente tornam-se nominalistas/voluntaristas quando pressionados a explicar em que sentido Deus é bom, levando em consideração o seu decreto para não salvar muitas pessoas que ele poderia salvar, afinal a salvação é decisão e realização unica e exclusiva de Deus, sem qualquer cooperação das criaturas. A resposta geralmente é: “Bem, tudo o que Deus faz é bom apenas porque Deus o faz.” Isso é puro nominalismo/voluntarismo e elimina qualquer caráter estável, duradouro e eterno de Deus, de tal forma que ele poderia, se quisesse, mudar de ideia e decidir não salvar ninguém. E isso esvazia a palavra “bom” de qualquer significado. É simplesmente o que Deus faz, ponto final.

O nominalismo é, na minha opinião, o erro teológico mais atual. Eu não vou chamá-lo de heresia (isso porque como Católico tenho boas razões). Mas eu vou dizer que vai contra a natureza do pensamento cristão sobre Deus e sobre a realidade por cerca de 1500 anos (antes do nominalismo aparecer e ganhar destaque na filosofia européia e, em seguida, na Reforma e no Iluminismo). Por ser uma heresia, leva a um esvaziamento de sentido nos principais conceitos cristãos. É claro, nem todo os protestantes seguem a lógica do nominalismo até as últimas consequências. Mas com o tempo, o nominalismo é como uma doença que se espalha e mata a cultura e solapa as bases sólidas do cristianismo, não de forma imediata, nem mesmo num espaço curto de tempo, mas em algum momento do futuro. A maioria dos protestantes sob sua influência simplesmente escolhe, de forma inconsistente, não seguir sua lógica inteiramente. Mesmo assim ele ainda tem seus efeitos perniciosos em seu pensamento.

A única maneira de evitar o relativismo absoluto em um ambiente cultural nominalista é com a ética do mandamento divino. “O mal é aquilo para o qual Deus diz não“. Mas a questão permanece e mentes curiosas querem saber “Por quê?”. Por que Deus diz não para, digamos, mentira? Há algo intrinsecamente errado, ruim, prejudicial na mentira ou Deus apenas não gosta dela por algum ou mesmo por nenhum motivo?

A teologia do Logos diz que há uma ligação, uma conexão intrínseca entre o caráter de Deus e o certo e o errado no mundo. E entre a verdade de Deus e a nossa. “Toda verdade é a verdade de Deus.” A razão (consciência), curada pela graça, se aproxima mais de Deus pela luz da revelação e da fé, e é capaz de compreender, até certo ponto, a verdade, a beleza e a bondade de Deus presentes na criação. É claro, por causa da nossa finitude e por causa da queda, pelo menos neste mundo, nunca teremos uma compreensão completa ou perfeita delas. E nosso alcance delas nunca será autônomo. Precisamos da revelação e da fé, a “iluminação do entendimento” conforme Agostinho, iluminação e sabedoria de Deus. Mas não há nenhuma arbitrariedade na verdade, beleza e bondade, nem mesmo no próprio Deus. Elas são parte dele, da sua natureza eterna, e resplandecem em sua criação. A filosofia cristã as procura e, pela graça de Deus, pode compreendê-las, pelo menos parcialmente.

Eu temo que todos nós estejamos, em certa medida, sofrendo uma lavagem cerebral pelo nominalismo. Ele é uma parte do DNA da teologia protestante que nós só podemos resistir se o reconhecermos e lutarmos contra ela. Este é, na minha opinião, um dos principais propósitos da boa educação cristã — escolas cristãs de todos os tipos e em todos os níveis. Livrar jovens católicos de influências nominalistas, provenientes da mídia e da cultura popular, que inundam suas mentes. Não se trata de aprender um conjunto de regras. Trata-se de ver a realidade de maneira diferente — a maneira que os cristãos pré modernos a entendiam — como se cobertos com a grandeza da verdade, beleza e bondade de Deus. E trata-se de enxergar a nós mesmos de maneira diferente — a maneira que os pré-modernos viam a si mesmos — como criaturas feitas à imagem de Deus capazes, pela luz da graça de Deus, de conhecer valores universais e descobrir a beleza, verdade e bondade (não criá-los assim como a cultura moderna).
Tertuliano era contra a igreja católica romana?

Recentemente, tive a oportunidade de conversar pelo face com um amigo protestante (calvinista) que me afirmava que também Tertuliano (escritor eclesiástico da Igreja primitiva) tinham posições “protestantes”. Alegava que para Tertuliano, a igreja católica era a sede do Anticristo. Vou dar-lhe a resposta e também porei outros questionamentos que se poderia fazer acerca do primado de São Pedro.

QUEM É TERTULIANO?

Foi um importante escritor eclesiástico nascido por volta do ano 160. De pais pagãos se converte ao cristianismo por volta do ano de 193 e se estabelece em Cartago. Ele foi ordenado sacerdote e teve sua atividade literária durante os anos 195-220. Infelizmente por volta do ano 207 abraçou a heresia do montanismo , e tornou-se chefe de uma das suas seitas (os Tertulianistas).

QUAL A IMPORTÂNCIA DOS ESCRITOS DE TERTULIANO PARA CATÓLICOS E PROTESTANTES?

Os escritos de Tertuliano (assim como os escritos dos Padres da Igreja e outros escritores eclesiásticos) são muito importantes, não só para os estudantes da patrística e patrologia, porque permitem conhecer a fundo o pensamento da Igreja primitiva e sua forma de interpretar as Escrituras.

Embora os protestantes rejeitem os escritos dos Padres e escritores eclesiásticos, muitos deles (não extremamente fundamentalista) reconhecem que são indispensáveis para o conhecimento da história da Igreja e do desenvolvimento da fé cristã. E isso muitas vezes acontece que, embora quase nunca citem os pais, o fazem quando pensam que o que dizem pode levar “água ao seu próprio moinho”. Eu queria aproveitar a ocasião para estudar os escritos de nosso autor, não só, enquanto aos pontos em que os protestantes frequentemente o citam, mas como um todo, a fim de fazer uma comparação justa e não fora do contexto do seu pensamento.

TERTULIANO, E O PRIMADO DE PEDRO E O PERDÃO DOS PECADOS POR PARTE DOS PADRES (PRESBÍTEROS)

Nos textos pré-montanistas do primado há uma aceitação implícita por Tertuliano da preeminência da Igreja de Roma. Em De praescriptione haereticorum (Prescrição dos hereges ou prescrições contra todas as heresias) afirma que da Igreja de Roma vem a autoridade e menciona o martírio de São Pedro e São Paulo lá.

Prescrições contra todas as heresias. Capítulo XXXVI.2-3.

"2. Mas se te encontras perto da Itália, tens Roma, de onde também para nós vem a autoridade . 3 Quão feliz é esta Igreja que os Apóstolos deram, com seu sangue, toda a doutrina, onde Pedro é igualado a paixão do Senhor , onde Paulo foi coroado com a morte de João [Batista], onde o apóstolo João, depois que, jogado em óleo fervente, não sofrendo dano algum, foi exilado em uma ilha. "

No mesmo tratado de onde tenta provar aos hereges que o Senhor não escondeu nada ao conhecimento dos Apóstolos, coloca por exemplo São Pedro e São João, mas de São Pedro diz que é a pedra sobre a qual a Igreja foi edificada e que recebeu as chaves do reino dos céus e o poder de ligar e desligar. De São João faz referência, mas como o discípulo amado.

Prescrições contra todas as heresias. Capítulo XXII. 2-4

"3. Quem, pois, de mente sã pode acreditar que ignoraram algo àqueles que o Senhor deu como mestres, mantendo inseparáveis em sua comitiva, em seu discipulado, em sua convivência, a quem explicava todas as coisas escuras, além, dizendo-lhes que a eles era dado conhecer aqueles mistérios que ao povo não era permitido entender?

4. Ele ocultou algo de Pedro, que foi chamado de pedra sob a qual a Igreja ia ser edificada, que obteve as chaves do reino dos céus e o poder de ligar e desligar no céu e na terra? "

É impossível entender que a posição de Tertuliano coincida com a posição protestante. Basta verificar todos os artigos protestantes que foram escritos contra o primado de Pedro, e todos sem exceção negam que Pedro é a rocha, alguns já até inventaram o argumento de que, como o texto grego não usa a mesma palavra para Pedro e Pedra, Cristo não estava chamando Pedro de "Pedra" (3). É claro que Tertuliano não interpretava dessa maneira.

Mas uma mudança significativa ocorreu na posição de Tertuliano uma vez tornou-se um discípulo do herege Montano, ignorou que o poder conferido a Pedro em virtude de suas chaves, também foi dado aos seus seus sucessores, nega também que os bispos em comunhão com ele poderiam utilizar, contradizendo o que ele mesmo havia estabelecido em De paenitentia (Sobre a penitência). Diz de forma tão acentuada em De Pudicitia (Sobre a modéstia):

Tertuliano, sobre a modéstia 21

"Se, pois o Senhor disse a Pedro:" Eu edificarei a minha Igreja sobre esta pedra; te darei as chaves do reino dos céus ", ou: "Tudo o que ligares ou desligares na terra será ligado ou desligado no céu " presume que o poder de ligar e desligar veio até você, ou seja,a toda a Igreja que está em comunhão com Pedro, que tipo de homem você é? Você se atreve a perverter e mudar totalmente a intenção manifesta do Senhor, que conferiu este privilégio somente para a pessoa de Pedro. "Sobre ti edificarei a minha Igreja", Ele disse , "Eu te darei as chaves", não a Igreja. "Tudo o que ligares ou desligares", etc. E nem tudo que ligarem ou desligarem ... Portanto, o poder de ligar e desligar, dado a Pedro, não tem nada a ver com a remissão dos pecados cometidos pelos fiéis ... Este poder, com efeito, de acordo com a pessoa de Pedro, não devia pertencer mais aos homens espirituais, independentemente de apóstolo ou profeta. "

Embora o texto em questão seja escrito por um Tertuliano já herege é muito revelador, pelas seguintes razões:

Primeiro porque no texto é claro que ele enfrentou um bispo que utilizava Mateus 16,18-19 para afirmar que as Igrejas em comunhão com Pedro tinham autoridade de perdoar os pecados, mesmo os graves, em plena época de Tertuliano! Os Protestantes (exceto luteranos) negam que os presbíteros tenham esse poder, mas aqui você pode ver que a Igreja primitiva tinha convicção de que sim.

Segundo, mesmo sob este ponto de vista, a posição herética de Tertuliano está mais longe da posição protestante, como afirma explicitamente que o poder das chaves foi dada exclusivamente para Pedro. De alguma forma, os protestantes conseguiram interpretar Mateus 16, 18 como cada crente tem as chaves para confessar a Cristo como Senhor. A posição católica é a posição equilibrada e a que ataca Tertuliano em seu escrito contra o bispo: As Igrejas em comunhão com Pedro por meio dos presbíteros, são as que podem em virtude das chaves concedidas ao apóstolo, perdoar os pecados, desde que se mantenham na unidade da Igreja.

Vamos agora voltar ao tempo pré-Tertuliano montanista para estudar um pouco a sua posição sobre a penitência. Definitivamente, admiti que há perdão dos pecados após o batismo, deixa isso claro em De penitentia

Sobre penitência, 7

"Oh Jesus Cristo, meu Senhor, concede aos teus servos a graça de conhecer e aprender com a minha boca a disciplina da penitência, mas enquanto lhes convém e não para o pecado, em outras palavras, que depois (do batismo) não tenham que conhecer a penitencia e nem pedi-la. Odeio mencionar aqui a segunda, ou por melhor dizer, neste caso, a última penitência. Temo que, ao falar de um remédio da penitência que se tem em reserva, parece sugerir que existe, todavia, um tempo em que se pode pecar. Deus me livre alguém interprete mal meu pensamento, fazendo-os dizer que com esta porta aberta a penitência existe, portanto, agora uma porta aberta ao pecado, ... Temos escapado uma vez (no batismo). Não vamos entrar mais em perigo, mesmo que nos pareça que ainda escaparemos outra vez. "

Mas a penitência segundo a qual Tertuliano refere-se aqui, está muito longe do estilo da posição protestante "Confesso confesso direto com Deus" , mas uma reconciliação com a Igreja. O pecador deve ser apresentado de acordo com o escritor somente a exomologêsis ou confissão pública, conhecer os atos de mortificação, como explicado em pormenor nos capítulos 9 e 12.

Sobre a penitência, 9-12

"Quando mais estrita é a necessidade desta segunda penitencia, tanto mais trabalhosa deve ser a prova; não basta que exista a consciência de ter feito mal; é necessário um ato que a manifeste exteriormente. Este ato, para usar uma palavra grega que é comumente usado, é o exomologesis, em virtude da qual confessamos a Deus nossos pecados, não porque Ele o ignorou, mas porque a confissão dispõe a satisfação e realiza a penitência, e esta, por sua vez, aplaca a ira de Deus. O exomologêsis é, pois, um exercício que ensina o homem a humilhar-se e rebaixar-se, impondo um regime capaz de atrair sobre ele a compaixão. Regulamenta a compostura exterior e sua alimentação; quer que deite sobre o saco e cinza, que se cubra o corpo em trapos, que se entregue à tristeza, que se vá corrigir em suas falhas por meio de um tratamento severo. Além disso, o penitente deve estar contente, em termos de comida e bebida, com as coisas simples que são estritamente necessários para sustentar a vida, não para lisonjear o estômago; nutre o oração com o jejum; gemidos, gritos e se lamenta dia e noite do Senhor, teu Deus; prostra-se aos pés dos sacerdotes e se ajoelha diante os amigos de Deus; pede as orações de seus irmãos, para que sirvam de intercessores junto a Deus."

Quando o texto se refere a ajoelhar-se aos pés do sacerdote mostra que a disciplina penitencial era uma instituição eclesiástica, ao qual terminava com uma absolvição oficial. Tertuliano questiona a quem evita este dever, dizendo: "É acaso melhor ser condenado em segredo que perdoado em publico?"

Torna-se claro que a posição de Tertuliano a este respeito está muito longe da posição protestante.

TERTULIANO, A SUCESSÃO APOSTÓLICA E DA SAGRADA TRADIÇÃO.

A visão pré-montanista de Tertuliano claramente define que os hereges não podem afirmar ter uma igreja legítima se não podem comprovar que sua origem descende das Igrejas fundadas pelos apóstolos que mantêm a tradição verdadeira. Com clareza o expressa em De Praescriptione haereticorum.

Prescrições contra todas as heresias. Capítulo XXXII.

"1. Além disso, se algumas [heresias] se atrevem a se inserir na era apostólica para parecerem transmitidas pelos Apóstolos porque existiram desde o tempo dos Apóstolos, podemos dizer: publiquem, então, as origens de suas igrejas, desenvolva a lista de seus bispos, para que, através da sucessão que se desenvolve desde o princípio, aquele primeiro bispo, tenha sido como garante e suceda a algum dos apóstolos ou qualquer um dos varões apostólicos, mas que tenha perseverado com os Apóstolos.

2. De fato, dessa maneira dão a conhecer suas origens das Igrejas apostólicas: como a Igreja dos esmiornitas que Policarpo foi colocado por João, como a dos romanos que Clemente foi ordenado por Pedro. 3. Da mesma forma, certamente, outras igrejas também mostram que os descendentes possuem semente apostólica para o episcopado pelos Apóstolos. 4. Inventam algo semelhante os hereges. Bem, depois de tanta blasfêmia o que é ilícito para eles?"

Impossível imaginar por que meu amigo considera Tertuliano também protestante, o que eu sei, é que não teria se sentido nada bem escutando Tertuliano exigir a origem apostólica de sua denominação. Mais irritante desde então, teve de ouvi-lo dizer que eles não têm o direito de discutir as Escrituras, porque para ele não há um requisito que exclui qualquer argumento: Você não pode usar a Bíblia pela simples razão de que a Bíblia não é a sua:

Prescrições contra todas as heresias. Capítulo XVss.

"2. Eles [os hereges] apresentaram as Escrituras e, com tal audácia, imediatamente impressionam alguns. Mas no debate mesmo fatigam, certamente, aos fortes, capturam aos fracos , deixam cheio de escrúpulos aos de condição intermediária.. 3. Por isso os atacamos adotando esta posição, a melhor: não admiti-los a nenhuma discussão sobre as Escrituras. 4. Se estes são os seus pontos fortes, para que eles possam usá-los, você deve primeiro discerni a quem corresponde a posse das Escrituras, a fim de que não seja admitido a aqueles a quem de nenhum modo corresponde. XVI. 1. Poderia ter introduzido esta abordagem por desconfiança ou por gosto de acometer de outro modo a questão, mas havia razões. Em primeiro lugar, que a nossa fé deve obedecer ao Apóstolo, que proíbe realizar discussões, dar atenção a palavras novas, visitar o herege após a correção (4) ... "

Imediatamente critica a atitude dos hereges por seu uso da Escritura, onde admitem algumas, ou não admitem inteiras, mas que deformam para apoiar as suas posições.

Tertuliano. Prescrições contra todas as heresias. Capítulo XVII.

1. "Esta heresia não admite certas Escrituras, e se admite algumas, não as admite íntegras, as mudam, no entanto, compondo interpretações contrárias à fé cristã. 2. Assim se opõem à verdade uma inteligência falsificadora como uma pena corruptora. Suas conjecturas vãs necessariamente se negam a reconhecer aquelas passagens mediante os quais são refutadas; 3. Se apoiam com aquelas que tem retocado fraudulentamente e que utilizam por razão de sua ambiguidade."

Para Tertuliano conhecer o verdadeiro sentido da Escritura, temos de recorrer a escola de Cristo, isto é, os apóstolos, portanto, apenas nas Igrejas apostólicas, podem dar a correta interpretação das Escrituras. Em suma, nada de interpretar a Bíblia por conta própria (eu, minha Bíblia e o Espírito Santo e mais ninguém! rs).

TERTULIANO E A EUCARISTÍA

A postura de Tertuliano a este respeito nunca mudou, mesmo em seu período montanista (5), sua convicção de que o pão e o vinho consagrados se convertem e são realmente o Corpo e Sangue do Senhor. Houve, no entanto, um protestante anticatólico (Daniel Sapia por exemplo (6)) que tentou tirar vantagem do texto do escritor fora de contexto para fazer entender outra coisa.

O texto em questão é o seguinte, onde Tertuliano chama o pão consagrado "figura de seu corpo" e, em seguida, parte a interpretar que por ser figura entendia como simbolismo ao invés de presença real. Geralmente também o citam para onde ele diz "figura de seu corpo" deixando completamente descontextualizado o texto.

Tertuliano, Contra Marcião L.4 C.40 (Kroymann, 559ss, Oehler, 2,267 s, 2,460 ML A - 462a).

"... Com grande desejo tenho desejado comer a Páscoa convosco antes de padecer Oh destruidor da lei que ansiava observar até mesmo a Páscoa! Certamente que ele deliciará por carne de cordeiro judaica. Ou será que ele, que tem de ser levado como a ovelha ao matadouro, e como a ovelha diante do tosquiador, não abriu a boca, ele queria fazer a figura de seu sangue de salvadora? Podia também ser entregado por qualquer estranho para que não dissesse eu que também nisto o salmo estava se cumprindo: Aquele que come do meu pão levantou contra mim o seu pé ... Mas teria sido adequada para outro Cristo, não que realizou as profecias.... Tendo declarado, pois, com grande entusiasmo que ele desejava comer a Páscoa, como sua, pois é indigno que Deus deseja algo alheio, tendo tomado o pão e distribuiu para os discípulos o fez com seu corpo dizendo: Isto é o meu corpo, é dizer, " figura do meu corpo." Mas não houve sido figura, mas era o corpo verdadeiro. Além disso, uma coisa vã como um fantasma não podia conter a figura. Ou se por isto ao pão fez seu corpo , porque não tinha corpo verdadeiro, em seguida, teve que dar o pão para nós. Rumo ao vazio de Marcião, que foi crucificado o pão, e no mais, bem ao melão que Marcião teve em vez de um coração? Não entendendo que é antiga esta figura do corpo de Cristo, que disse por Jeremias: Urgiam tramas contra mim, dizendo: Venha, tomamos um fragmento em seu pão, ou seja, a cruz em seu corpo. Assim, o que ilumina as antigas figuras, ao chamar ao pão seu corpo, declarou suficientemente que então significaria pão. Então, em comemoração do cálice, constituindo a vontade selada com seu sangue, confirmou a substância do seu corpo. Como o sangue não pode ser de qualquer outro organismo do que a carne. Porque se alguma propriedade no carnal do seu corpo se nos opõe, certamente se não é carnal não tenderá sangue. Assim, o teste da realidade do corpo é confirmada pelo testemunho da carne, e a prova da realidade da carne pelo testemunho de Sangue. E para reconhecer a antiga figura do sangue no vinho, Isaías disse... Muito mais manifestamente o Gênesis, na bênção de Judá, tribo da qual havia de provir a origem da carne de Cristo, já em seguida, esboçou Cristo em Judá: Lavará, disse ele, em vinho seu vestido, e em sangue das uvas o seu manto, significando a estola e o manto a carne e o vinho o sangue. Então, agora consagrou seu sangue no vinho, e que depois era ao vinho figura de seu sangue ..... "

Para entender as palavras de Tertuliano, temos que saber o contexto. Marcião negou que Cristo tinha um corpo real. A força do argumento de Tertuliano contra Marcião foi que o pão não poderia ser verdadeiro corpo de Cristo, se Cristo não tivesse sido também corpo verdadeiro. Como poderia a Igreja por unanimidade acreditar que o pão consagrado era o corpo de Cristo, se Cristo não tinha corpo? Essa foi a arma de Tertuliano contra Marcião. Além disso, quando ele diz: "O pão era seu corpo" denota uma mudança de substância. A realidade da Eucaristia e da fé da Igreja demonstravam a realidade física do corpo de Cristo.

Tertuliano utiliza a expressão figura de seu corpo para se referir ao corpo real. Tertuliano fala do Pão Eucarístico como "figura" do corpo de Cristo, porque o verdadeiro corpo de Cristo no Antigo Testamento havia sido anunciado pelos profetas sob a forma de pão, como o verdadeiro sangue havia sido prefigurado no vinho.

Este mesmo o reconhece, o teólogo protestante e historiador César Vidal Manzanares:

"[Tertuliano] não tratou com frequência o tema da Eucaristia, mas parece claro que ele considera isso como um sacrifício (De Orat XIX) e, claro, disse que a presença real (De pud IX, VII Idol). Como ele mesmo observa: "Cristo tomou o pão e deu aos seus discípulos, o fez seu corpo dizendo Este é o meu corpo" (Adv. Marc IV, 40). Se tem discutido se a expressão "representa" em relação ao papel que o pão desempenha sobre ao corpo de Cristo na Eucaristia não seria contraditória com o anteriormente exposto. Na verdade, cremos que não, posto que aqui “representa” tem o conteúdo de fazer presente. O pão é o meio que se utilizaria, pois, para fazer presente o corpo de Cristo - e não apenas para simbolizar - na Eucaristia”. (Cesar Vidal Manzanares. Dicionário de Patrística.)

Uma análise completa dos textos de Tertuliano exclui completamente a interpretação protestante. Tertuliano chegou a declarar que sofrem de ansiedade se cai no chão algo do pão consagrado, prova de que reconhecia em um símbolo simples e considera como grave afronta que os pecadores aproximem à Eucaristia que explicitamente chamam de "Corpo de Senhor" mãos pecadoras. Também menciona que a Igreja é alimentada pelas delícias do corpo e do sangue do Senhor, que é a Eucaristia.

"Portanto, pelo sacramento do pão e do cálice, já temos provado no evangelho a verdade do corpo e do sangue do Senhor contra do fantasma defendido por Marcião ... " (Contra Marcião L.5 c.8 (Kroymann, 597; OEHLER, 2,296, 2,489 ML A))

"O sacramento da Eucaristia confiada pelo Senhor na hora da ceia, e todos, ele também teve reuniões antes do amanhecer, e não nas mãos dos outros, mas de quem presidirá; ... sofremos ansiedade, se algo cai no chão do nosso cálice ou então de nossa pão. " (Sobre a coroa C.3 (KROYMANN: CSEL 70 (1942) 158, OEHLER, 1421ss; ml 2,79 A - 80 A))

"O zelo da fé falará chorando neste ponto: é possível para um cristão vem dos ídolos para a Igreja, da oficina do adversário para a casa de Deus, para levantar as mãos mães dos ídolos a Deus Pai; que ore com aquelas mãos para quais foram orar contra Deus, e trazer o corpo do Senhor aquelas mãos que levam corpos aos demônios? ... " (Sobre a idolatria (C.7 (A. REIFFERSCHEID - G. WISSOWA; CSEL 20,1 (1890)36; OEHLER, 1,74 s; ML 1,669 A-B))

".... recebe também então o primeiro anel, com o qual, depois de questionar, sela o compromisso da fé, e assim então é alimentado com as delícias do corpo do Senhor, ou seja, a Eucaristia " (Sobre da honestidade. C.9 (G. RAUSCHEN: FP (1915) 53s; OEHLER, 1,810 s, ML 2,997 D - 998 C))

TERTULIANO E DA VIRGEM MARIA

Tertuliano faz eco de outros pais a chamar a Virgem Maria "A nova Eva" em De carne Christi 17 (Sobre a carne de Cristo).

Sobre a carne de Cristo, 17

"Eva ainda era virgem quando em seu ouvido se insunuou a palavra sedutora que ia construir o edifício da morte. Tinha, pois, que uma virgem também introduzir a Palavra de Deus que veio para erguer o edifício da vida, a fim de que o mesmo sexo que foi a causa da nossa ruína também foi o instrumento de nossa salvação. Eva acreditou na serpente, Maria acreditou em Gabriel. A miséria que primeiro atraiu por sua credulidade deve excluir o segundo pela sua fé. Mas (alguns dirão) Eva não concebeu em seu seio pela palavra do diabo. Mas, em qualquer caso, concebeu; porque a palavra do diabo foi para ela uma espécie de semente. Por isso ela concebeu no desterro e deu à luz com dor. Enfim, colocou ao mundo um irmão fratricida; Maria em troca, teve um filho que veio para salvar Israel. "

No entanto, Tertuliano foi o primeiro a rejeitar o dogma da virgindade de Maria após o nascimento, ao contrário da opinião geral da Igreja. Fontes no entanto, disse que Maria concebeu e deu à luz como uma virgem (7), como Santo Irineu em sua demonstração da pregação apostólica (C.54), escriveu no ano de 190, além de outras provas como as Odes de Salomão, (primeira metade do século), o evangelho apócrifo de Tiago (meados do segundo século) e da Ascensão de Isaías, na última década do primeiro século.

CONCLUSÃO

Foi Tertuliano protestante Fábio Fabio Correia? Basta responder a estas perguntas:

1) Creem os protestantes que uma Igreja não é um legítima se não pode demonstrar através da sucessão ininterrupta de bispos se procede de algum apóstolo (sucessão apostólica) e que Pedro é a pedra que está edificada a Igreja?.

2) Creem os protestantes que é a Igreja a única autorizado a interpretar a Escritura corretamente e que os que se separam dela não tem direito a recorrer a elas?

3) Creem os protestantes que que a Eucaristia é o corpo do Senhor e sofrem ansiedade se cai algo ao chão?

4) Os protestantes confessam seus pecados perante o clero e fazem penitência imposta por eles?

5) Creem que o batismo é um sacramento necessário para a salvação?

Se todas essas respostas você pode responder sim, entãoTertuliano era protestante.

Agora, se esses questionamentos dos protestantes se referem ao período montanista de Tertuliano, onde desconhece que os bispos em comunhão com Pedro pode absolver dos pecados graves aos fiéis, dizendo que esses pecados são imperdoáveis, terminando por rejeitar a autoridade do Papa para abraçar uma seita e logo fundar uma própria que depois desapareceu, pois se, Tertuliano era protestante. (Eu espero que, desde esta perspectiva, então não venham para ensinar que Montano foi a manifestação do Espírito Santo, o Paráclito prometido).

Os dons criados pelos pentecostais

 
Alguns pentecostais dizem existir o dom Carismático de curaEsse dom realmente existe?

Responde primeiramente o grande apologista católico Rafael Vitola Brodback:
 
TODOS os autores de teologia mística enumeram os dons carismáticos (como hoje se chama, embora o nome mais tradicional seja "graças gratis datae" ou "carismas" mesmo) como nove.

Tanquerey os coloca entre os carismas ou graças gratis datae, junto com as revelações privadas, no grupo dos fenômenos divinos intelectuais, que, por sua vez, faz parte do grande grupo dos fenômenos místicos extraordinários.

O que passar disso é especulação, invenção, sentimentalismo etc. 

Ou seja, do modo pentecostal não existe.






 



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Interessante que só os pentecostais saibam deste dom! E mais, ainda ensina com os cinco passos. Por Deus que queria saber quais são.
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É uma bela de uma livre interpretação da palavra de Deus, a seu bel prazer, passando longe, muito longe da Tradição, que logicamente sabe o quanto move o coração de Deus diante da cura de seus filhos e de sua real importância na medida que pode levar a santificação de uma vida.

Mais uma vez usam de termos incorretos levando a confusão. Pedir a Deus que nos ajude a fazermos sua vontade é lícito e necessário. Pedir a Ele que nos dê a docilidade para obedece-lo e colaborar com Ele em nossa santificação, é lícito e necessário, mas daí pedir dom só curas e milagres?

Sabe o que é duro neste subjetivismo? Eles se passam por amorosos, e quem quer entender pela Igreja e na retidão, passam por duros, sem amor, e donos da verdade.

O duro é que estão evangelizando o Brasil, quero ver e vou exultar neste dia, quando ensinar pela Igreja, pelo catecismo, sem invenções pessoais... Mas sei de onde vem isso, são profetas modernos e Deus está revelando isso hoje... e se esquecem que Deus já SE revelou pela Igreja, que já temos tudo que precisamos saber pra nossa salvação e santificação.

Vocês se lembram daquele alerta que nos fins dos tempos os homens já não suportariam a Sã Doutrina? Seria ela dura demais pra estes tempos de homens frouxos? Queremos nós que a porta seja mais larga do que realmente é?
Chegamos à velha conclusão de quase sempre:

É o extraordinário sendo transformado em ordinário.
 

É o gratuito sendo mudado em comprável.
 

É o dom sendo colocado como trivial e vindo com manual de instrução.

Ou seja, é a banalização e distorção da milenar Mística Cristã por grupos que se acham no direito de interpretar as Sagradas Escrituras e a Tradição a bel prazer.  

Deus é bom , é pai e porque nos ama usa de muitos meios para nos chamar a Ele, afinal quer que todos cheguem ao conhecimento da verdade e sejam salvos, para isso mandou Seu Filho.

O que acontece é que Ele envia as graças atuais, para chamar seus filhos a Si, e utiliza de Graças exteriores, que atuam diretamente sobre os sentidos e faculdades sensitivas, que atingem nossas faculdades espirituais, nos ajudando assim a encontrá-lo.

É o que acontece quando a pessoa chega a um grupo de oração: a leitura dos livros santos, os cânticos, a oração em comum, agem como graças exteriores e estas por si mesmas não fortificam a vontade, mas produzem em nós impressões favoráveis que movem a inteligência e a vontade e as inclinam para o bem sobrenatural, que é o objetivo. Deus nos dá então, moções interiores, que iluminando a inteligência e fortificando a vontade, ajudam a fortalecer e se tornarem melhores, por isso, aquela explosão de alegria que vemos e que aconteceu conosco.

Deus sabe que nós nos elevamos do sensível ao espiritual, adapta-se à nossa fraqueza e serve-se das coisas visíveis, para nos levar à virtude. Mas não podemos parar aí, e sim a partir daí, aprendermos o correto buscando o necessário, que é fazer sua vontade, agora, se for da Sua vontade nos dar dons, o receberemos com solicitude, sabendo que temos que viver em verdadeiro estado de graça, quebrantado-nos sem cessar, para sermos santos e irrepreensíveis diante de Seus olhos.

Agora, fazer dos dons, o carro chefe, a meu ver, é buscar sim o fim, sem buscar os meios, e isso é puro engano, afinal, somente Deus sabe quem terá os dons. Pedir o Espírito santo, é legitimo, buscar a santidade é agradável a Deus. Já os dons? Pode ser que eu ache que os tenha, e no final o Senhor pode me dizer: Afastai-vos de Mim, pois não te conheço.
 
Eu particularmente não sou contra os dons, só quero que entendam que eles são DONS e que não usemos fórmulas para tê-los.
Do que entendo que todos deviam aprender a saber (discernir) isso!

Este discernimento deve ser feito pelos nossos pastores. Veja o que nos diz O Papa João Paulo II:

Os verdadeiros carismas não podem senão tender para oencontro com Cristo nos Sacramentos. As verdades eclesiais a que aderis ajudaram-vos a redescobrir a vocação baptismal, a valorizar os dons do Espírito recebidos na Confirmação, a confiar-vos à misericórdia de Deus no Sacramento da Reconciliação e a reconhecer na Eucaristia a fonte e o ápice da inteira vida cristã. E de igual modo, graças a essa forte experiência eclesial, surgiram esplêndidas famílias cristãs abertas à vida, verdadeiras «igrejas domésticas», desabrocharam muitas vocações ao sacerdócio ministerial e à vida religiosa, assim como novas formas de vida laical inspiradas nos conselhos evangélicos. Nos movimentos e nas novas comunidades aprendestes que a fé não é questão abstracta, nem vago sentimento religioso, mas vida nova em Cristo, suscitada pelo Espírito Santo.

8. Como conservar e garantir a autenticidade do carisma? É fundamental, a respeito disso, que cada movimento se submeta ao discernimento da Autoridade eclesiástica competente. Por esta razão, nenhum carisma dispensa da referência e da submissão aos Pastores da Igreja. Com palavras claras o Concílio escreve: «O juízo acerca da sua autenticidade e recto uso pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. 1 Ts 5, 12.19-21)» (Lumen gentium, 12). Esta é a necessária garantia de que a estrada que percorreis é justa!  
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 Se os líderes pentecostais fizerem exatamente o que pediu Nosso querido João Paulo II eles se tornarão muito mais agradáveis a Deus, formando verdadeiros cristãos obedientes, já que mantém em seu meio muitas pessoas maravilhosas, sedentas de santidade e com um grande desejo de servir a Igreja e consequentemente a Deus.

O Espírito Santo soprou em mim isso, soprou aquilo, e eu tenho que fazer porque o Espírito me impulsiona, e o homem quer matar o Espírito. Com isso, se vai pregando, ensinando aquilo que o fiel acha que é certo, não aquilo que a Igreja ensina no seu Magistério. E pior, se quer impor ao outro que tenha uma revelação privada da graça, ensinando orar em línguas, ensinando dançar no Espírito. Ora! Quem dá é o Espírito e não é imposição de ninguém.

Ninguém pode afirmar que recebeu uma graça com verdade de fé, e ninguém pode fazer uma experiência privada do Espírito Santo, porque tais dons são para a Igreja. Ninguém pode fazer uma experiência privada e crer, dizer e afirmar é que um movimento do Espírito Santo.
  
Doutrina sobre Dons Extraordinários
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Doutrina exposta por São João da Cruz, doutor da Igreja.

***** Livro III - Capítulo XXX

1. Agora é conveniente tratar do quinto gênero de bens nos quais pode a alma gozar-se: os bens sobrenaturais. Por eles entendemos as graças e dons concedidos pelo Senhor, superiores à habilidade e poder natural, chamados gratis datae, dons gratuitos. Tais são os dons de sabedoria e ciência conferidos a Salomão, e também as graças enumeradas por S. Paulo: "A fé, a graça de curar as doenças, o dom dos milagres, o espírito de profecia, o discernimento dos espíritos, a interpretação das palavras, enfim, o dom de falar diversas línguas (Cor 12,9-10).

2. Sem dúvida, todos esses bens são espirituais, como os do sexto gênero, do qual nos ocuparemos mais tarde; todavia, existe entre eles diferença notável, motivo para distingui-las uns dos outros. O exercício dos bens sobrenaturais tem por fim imediato a utilidade do próximo e é para esse proveito e fim que Deus os concede, conforme diz S. Paulo: "E a cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito dos demais" (ib. 5,7). Isto se aplica a essas graças. Os bens espirituais, porém, têm por objetivo somente as relações recíprocas entre Deus e a alma, pela união do entendimento e da vontade, conforme explicaremos mais adiante. Assim, pois, há diferença entre o objeto de uns e outros; os bens espirituais visam só o Criador e a alma, enquanto os sobrenaturais se aplicam às criaturas; diferem também quanto à substância e, por conseguinte, quanto à operação, sendo, portanto, necessário estabelecer certa divisão na doutrina.

3. Falemos agora das graças e dos dons sobrenaturais, no sentido aqui dado. Para purificar a vã complacência que a alma neles pode achar, vem a propósito assinalar dois proveitos desse gênero de bens; um temporal e outro espiritual. O primeiro é curar doentes, dar a vista a cegos, ressuscitar mortos, expulsar demônios, anunciar o futuro aos homens, e outros semelhantes benefícios. 
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O segundo é eterno, e consiste em tornar Deus mais conhecido e servido, seja por quem opera esses prodígios, seja pelos que deles são objetos ou testemunhas.

4. Quanto ao proveito temporal pode-se dizer que as obras sobrenaturais e os milagres pouca ou nenhuma complacência merecem da alma; porque, excluído o proveito espiritual, pouca ou nenhuma importância têm para o homem, pois em si mesmos não são meio para unir a alma com Deus, como é somente a caridade. Com efeito, essas obras e maravilhas sobrenaturais não dependem da graça santificante e da caridade naqueles que as exercitam; seja Deus as conceda verdadeiramente, apesar da maldade humana, como fez ao ímpio Balaão e a Salomão, seja quando exercidos falsamente pelos homens, com a ajuda do demônio, como sucedia a Simão Mago; ou ainda pelas forças ocultas da natureza. Ora, se entre tais graças extraordinárias algumas houvesse de proveito para quem as pratica, evidentemente seriam as verdadeiras, concedidas por Deus. E estas, - excluindo o seu proveito espiritual, - claramente ensina S. Paulo o seu valor dizendo: "Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine. E se eu tiver o dom da profecia, e conhecer todos as mistérios e quanto se pode saber; e se tiver toda a fé, até ao ponto de transportar montes, e não tiver caridade nada sou" (1Cor 13,1-2). Muitas almas que receberam esses dons extraordinários e neles puseram sua estima, pedirão ao Senhor, no último dia, a recompensa que julgam ter merecido por eles, dizendo: Senhor, não profetizamos em teu nome, e em teu nome obramos muitos prodígios? E a resposta será: "Apartai-vos de mim, os que obrais a iniqüidade" (Mt 7,22-23). 
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5. Portanto, jamais deve o homem comprazer-se em possuir tais dons a não ser pelo lucro espiritual que deles pode tirar, isto é, em servir a Deus com caridade verdadeira, pois aí está o fruto da vida eterna. Por essa razão nosso Salvador repreendeu seus discípulos quando mostravam muita alegria por terem expulsado os demônios: "Entretanto, não vos alegreis de que os espíritos se vos submetam; mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam escritos no céu" (Lc 10,20). O que, em boa teologia, significa: gozai-vos somente de que estejam vossos nomes escritos no livro da vida. Seja esta a conclusão: a única coisa na qual pode o homem comprazer-se é a de estar no caminho da vida eterna fazendo todas as suas obras em caridade. Tudo, pois, que não é amor de Deus, que proveito traz e que valor tem diante dele? E o amor não é perfeito quando não é bastante forte e discreto em purificar a alma no gozo de todas as coisas, concentrando-o unicamente no cumprimento da vontade de Deus; Deste modo se une a vontade humana com a divina por meio destes bens sobrenaturais.

Livro III - Capítulo XXXI 
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Dos prejuízos causados à alma quando põe o gozo da vontade neste gênero de bens.

1. A meu parecer, três são os danos principais em que a alma pode cair colocando seu gozo nos bens sobrenaturais: enganar e ser enganada, sofrer detrimento na fé e deixar-se levar pela vanglória ou alguma vaidade.

2. Quanto ao primeiro dano, é muito fácil enganar os outros e a si mesmo quando há complacência nas obras sobrenaturais. Eis a razão: para distinguir quais sejam as falsas das verdadeiras, e saber como e a que tempo se devem exercitar, é necessário grande discernimento e abundante luz de Deus: ora,o gozo, e a estimação de tais obras impede muito estas duas coisas. Isto acontece por dois motivos: porque o prazer embota e obscurece o juízo; e porque o homem, movido pelo desejo de gozar, não somente cobiça aqueles bens com muita sofreguidão, mas ainda se expõe a agir fora de tempo. 
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Mesmo no caso de serem verdadeiras as virtudes e as obras, bastam os defeitos assinalados para produzir muitos enganos, quer por não serem elas entendidas no seu sentido real, quer por não se realizarem nem trazerem proveito às almas no tempo e modo mais oportuno. É verdade que Deus, distribuidor dessas graças sobrenaturais, as concede juntamente com a luz e o impulso para obrá-las na ocasião e maneira mais conveniente; todavia, o homem ainda pode errar muito, devido à imperfeição e ao espírito de propriedade que nelas tem, não as usando com a perfeição exigida pelo Senhor e conforme a vontade de Deus. A história de Balaão confirma o que dizemos; quando este falso profeta se determinou, contra as ordens de Deus, - a ir maldizer o povo de Israel, o Senhor, indignado, o queria matar (Nm 22,22-23). Também S. Tiago e S. João, levados por um zelo indiscreto, queriam que caísse fogo do céu (Lc 9,54) sobre os samaritanos, pelo fato de recusarem a hospitalidade a nosso Salvador; mas foram logo repreendidos por ele.

3. Daí se vê claramente como estes espíritos de que vamos falando determinam-se a fazer tais obras fora do tempo conveniente, movidos por secreta paixão de imperfeição, envolta em gozo e estima delas. Quando não há semelhante imperfeição, as almas esperam o impulso divino para realizar essas obras, e só as fazem segundo o modo e o momento requerido pelo Senhor; pois, até então, não convém agir. Deus, por isso, queixava-se de certos profetas, por Jeremias, dizendo: "Eu não enviava estes profetas e eles corriam, não lhes falava nada e eles profetizavam" (Jr 23,21). Acrescentando: "Enganaram ao meu povo com a sua mentira e com os seus milagres, não os havendo eu enviado, nem dado ordem alguma" (Jr 23,32). Em outro trecho diz ainda que eles tinham visões apropriadas à tendência do seu espírito e que eram essas precisamente as que divulgavam (Ib. 26). Esses abusos não se dariam se os tais profetas não tivessem misturado o abominável afeto de propriedade a estas obras sobrenaturais.  


4. Pelas citações feitas, podemos reconhecer que o dano deste gozo leva o homem a usar de modo iníquo e perverso dessas graças divinas, como Balaão e os que faziam milagres para enganar o povo; e, além disso, induz à temeridade de usar delas sem as haver recebido de Deus. Deste número foram os que profetizavam e publicavam as visões da sua fantasia, ou aquelas que tinham por autor o demônio. Este, com efeito, explora imediatamente a disposição desses homens afeiçoados aos favores extraordinários; fornece-lhes abundante matéria neste vasto campo exercendo as suas malignas influências sobre todas as suas ações; e eles assim enfunam as velas para vogar livremente com desaforada ousadia nestas prodigiosas obras.

5. O mal não pára aí: o gozo e a cobiça desses bens levam essas pessoas a tais excessos que, se antes tinham feito pacto oculto com o demônio (porque muitos fazem coisas extraordinárias por esse meio), chegam ao atrevimento de se entregar então a ele por pacto expresso e manifesto, tornando-se seus discípulos e aliados. Daí saem os feiticeiros, encantadores, mágicos, adivinhos e bruxos. Para cúmulo do mal, esta paixão de gozo nos prodígios extraordinários leva a ponto de se querer comprar a peso de dinheiro as graças e os dons de Deus, a modo de Simão Mago, para fazê-las servir ao demônio. Esses homens procuram ainda apoderar-se das coisas sagradas, e, - não se pode dizê-la sem tremer! - ousam tomar até os divinos mistérios, como já tem sucedido, sacrilegamente usurpando o adorável corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo para uso de suas próprias maldades e abominações. Digne-se Deus mostrar e estender até eles a sua infinita misericórdia.

6. Cada um de nós bem pode compreender quão perniciosas para si mesmas e quão prejudiciais à cristandade são estas pessoas. Observemos de passagem que todos aqueles magos e adivinhos do povo de Israel, aos quais Saul mandou exterminar, caíram em tantas abominações e enganos porque quiseram imitar os verdadeiros profetas de Deus.

 7. O cristão, pois, dotado de alguma graça sobrenatural, deve acautelar-se de pôr aí o seu gozo e estimação, não buscando obrar por esse meio; porque Deus que lha concedeu sobrenaturalmente para utilidade da sua Igreja, ou dos seus membros, movê-lo-á também sobrenaturalmente quando e como lhe convier. O Senhor que mandava aos seus discípulos não se preocupassem do que nem como haviam de falar, quando se tratasse de coisa sobrenatural da fé, quer também que nestas obras sobrenaturais o homem espere a moção interior de Deus para agir, pois na virtude do Espírito Santo é que se opera toda virtude. Embora os discípulos houvessem recebido de modo infuso as graças e os dons celestes, conforme se lê nos Atos dos Apóstolos, ainda assim fizeram oração a Deus rogando-lhe que fosse servido de estender sua mão para obrar por meio deles prodígios e curas de doentes, a fim de introduzir nos corações a fé de Nosso Senhor Jesus Cristo (At 4,29-30).

8. O segundo dano que pode provir do primeiro é detrimento a respeito da fé, de duas maneiras. A primeira, quanto ao próximo; como, por exemplo, se uma pessoa se dispõe a fazer milagres ou maravilhas fora de tempo ou sem necessidade, não somente tenta a Deus, o que é grave pecado, como ainda poderá fazer com que o efeito não corresponda à sua expectativa. Os corações, desde logo, serão expostos a cair no descrédito ou no desprezo da fé. Porque embora o milagre se realize, e Deus assim o permita por motivos só dele conhecidos, como fez com a pitonisa de Saul (1Sm 28,12) (se é verdade que foi Samuel que ali apareceu), nem sempre acontecerá assim. E quando acontecer realizar-se o prodígio, não deixam de errar os que o fazem, e de terem culpa, pois usam dessas graças quando não é conveniente.

A segunda maneira é que o homem pode sentir em si mesmo detrimento em relação ao mérito da fé. A estima exagerada dos milagres, cujo poder lhe foi dado, desvia-o muito do hábito substancial da fé que por si mesma é hábito obscuro;e assim, onde abundam os prodígios e os fatos sobrenaturais, há menos merecimento em crer. A esse propósito, diz-nos S. Gregório: "A fé é sem mérito quando a razão humana e a experiência lhe servem de provas"Por este motivo, Deus só opera tais maravilhas quando são absolutamente necessárias para crer. A fim de que os seus discípulos não perdessem o mérito da fé quando tivessem experiência da sua ressurreição, Nosso Senhor, antes de se lhes mostrar, fez várias coisas, para induzi-los a crer sem o verem. A Maria Madalena primeiramente mostrou vazio o sepulcro e depois lhe fez ouvir dos anjos a notícia desse mistério; porque a fé vem pelo ouvido, como diz S. Paulo, e assim esta santa deveria acreditar antes ouvindo do que vendo. Mesmo quando o viu, foi sob o aspecto de um homem comum. Nosso Senhor quis desse modo acabar de instruí-la na fé que lhe faltava por causa de sua presença sensível. Aos seus discípulos, primeiramente, enviou as santas mulheres a dar-lhes a nova da ressurreição, e eles depois foram olhar o sepulcro. Aos dois que iam a Emaús (Lc 24,15) juntou-se no caminho dissimuladamente; e inflamava-lhes os corações na fé, antes de se manifestar aos seus olhos. Enfim, repreendeu a todos os seus apóstolos reunidos, por não acreditarem na palavra dos que lhes tinham anunciado a sua ressurreição; E a São Tomé, porque quis ter experiência tocando nas suas chagas, censurou o Senhor quando lhe disse: "Bem-aventurados os que não viram, e creram" (Jo 20,29).  

9. Vemos, portanto, que não é condição de Deus fazer milagres, antes, ele os faz quando não pode agir de outro modo. Foi por isso que censurou aos fariseus: "Vós, se não vedes milagres e prodígios, não credes" (lb. 4,48). As almas cuja afeição se emprega nessas obras sobrenaturais sofrem grande prejuízo quanto à fé.

10. O terceiro dano é cair ordinariamente a alma na vanglória ou em alguma vaidade, quando quer gozar em tais obras extraordinárias. O próprio prazer por essas maravilhas já é vaidade, não sendo proporcionado puramente em Deus e para Deus. Eis por que Nosso Senhor repreendeu seus discípulos quando manifestaram alegria por terem subjugado os demônios (Lc 10,20); jamais lhes dirigiria esta reprimenda, se não fosse vão tal gozo.

CAPÍTULO XXXII 

Dos proveitos resultantes da abnegação do gozo nas graças sobrenaturais.

1. A alma, além das vantagens encontradas livrando-o se dos três danos assinalados, adquire, pela privação de gozo nas graças sobrenaturais, dois proveitos muito preciosos. O primeiro é glorificar e exaltar a Deus; o segundo, exaltar-se a si mesmo. Efetivamente, de dois modos é Deus exaltado na alma. Primeiramente, desviando o coração e a afeição da vontade de tudo o que não é Deus, para fixá-los unicamente nele. "Chegar-se-á o homem ao cimo do coração, e Deus será exaltado" (Sl 63,7). O sentido destas palavras de Davi já foi referido no começo do tratado sobre a noite da vontade. Quando o coração paira acima de todas as coisas, a alma se eleva acima de todas elas.

2. Quando a alma concentra todo o seu gozo só em Deus, muito glorifica e engrandece ao Senhor que então lhe manifesta sua excelência e grandeza; porque nesta elevação de gozo, a alma recebe de Deus o testemunho de quem ele é. Isso, porém, não acontece sem a vontade estar vazia e pura quanto às alegrias e às consolações a respeito de todas as coisas, como o Senhor ainda o ensina por Davi: "Cessai, e vede que eu sou Deus" (Sl 45,11).

E outra vez diz: "Em terra deserta, e sem caminho, e sem água; nela me apresentei, a ti como no santuário para ver o teu poder e a tua glória" (Sl 42,3). Se é verdade que Deus é glorificado pela completa renúncia à satisfação de todas as coisas, muito mais exaltado será no desprendimento dessas outras coisas mais prodigiosas, quando a alma põe somente nele o seu gozo; porque são graças de maior entidade, sendo sobrenaturais; e deixá-las para estabelecer unicamente em Deus sua alegria será atribuir a ele maior glória e maior excelência do que a elas. Quanto mais nobres e preciosas são as coisas desprezadas por outro objeto, mais se mostra estima e rende-se homenagem a este último.

3. Além disto, no desapego da vontade nas obras sobrenaturais, consiste o segundo modo de exaltar a Deus.Pois, quanto mais Deus é crido e servido sem testemunhos e sinais, tanto mais é exaltado pela alma; porque ela crê de Deus mais do que os sinais e os milagres lhe poderiam dar a entender.

4. O segundo proveito, como dissemos, faz a alma exaltar-se a si mesma. Afastando a vontade de todos os testemunhos e de todos os sinais aparentes, eleva-se em fé muito mais pura, a qual Deus lhe infunde e aumenta com maior intensidade. Ao mesmo tempo, o Senhor faz crescer na alma as duas outras virtudes teologais, a esperança e a caridade. A alma goza, então, de sublimes e divinas notícias, por meio deste hábito obscuro da fé em total desapego. Experimenta grande deleite de amor pela caridade que lhe faz gozar unicamente de Deus vivo; e mediante a esperança permanece satisfeita quanto à memória. Tudo isto constitui admirável proveito, essencial e diretamente necessário à perfeita união da alma com Deus.

(São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Livro III. cap. XXX – XXXII) 

Esse blog e eu como seu autor sou contra o movimento protestante pentecostal, e contra algumas idéias e práticas distorcidas que seus membros cometem, e ao contrário do que pensam, eu aqui não fico o dia todo pensando no pentecostalismo e infelizmente para mim, tenho muitas vezes em forma de artigos sobre os pentecostais e na maioria das vezes eles nunca são edificantes, por dois motivos:

Os membros do pentecostalismo não aceitam críticas, nunca!

Os membros do pentecostalismo não conseguem debater com argumentos, nunca!

E como isso não acontece, gera sempre confusão.

Tenho certeza que os pentecostais, sentem no seu íntimo um desejo de crescimento, pois passam anos fazendo cultos, vigílias e congressos, que são bons, concordo, mas que deixa um gosto de "quero ir mais além e não sei como faze-lo" - a liderança poderá ajuda-los, com certeza.

Muitas igrejas pentecostais diminuiram o número de membros, primeiro porque as pessoas se encontram dentro da Igreja e vão a outras denominações e pastores, lícito e belo! e segundo pela falta de conteúdo de quem serve e prega, pois não tendo formação, não podem dar o alimento desejado e tão necessário para se crescer espiritualmente e isto se desgasta com o tempo.

Rezo e espero para que compreendam isso, algo muito bom poderá vir por aí! e estou disposto a ajudar, sempre!